Qual a porcentagem dos pacientes operados de câncer de próstata que desenvolvem incontinência urinária?
Em geral de 2 a 5 % dos pacientes que são operados por câncer de próstata acabam apresentando incontinência urinária. E cerca de 1% dos pacientes que são operados por doença benigna, por terem aumento prostático que ocorre com a idade.
Quais as causas da incontinência urinária?
A principal causa da incontinência urinária quando o paciente é operado por câncer de próstata é a deficiência esfincteriana, quer dizer, o músculo que é responsável por segurar a urina pode ser lesado durante a cirurgia da próstata. Algumas questões anatômicas facilitam a lesão ou não lesão do músculo esfincteriano.
Quando músculo é lesado ele deixa de ser eficiente na contenção da urina dentro da bexiga, ou seja, o canal não consegue permanecer fechado durante a fase de enchimento da bexiga levando a um gotejamento contínuo que pode piorar quando o paciente faz algum tipo de esforço.
Em uma pequena porcentagem de pacientes a incontinência urinária pode ter outra causa provocada por uma alteração na bexiga. A bexiga passa a ter pequenas contrações e quando ela tem essas pequenas contrações tem uma perda de urina ao mesmo tempo.
Geralmente, quando um paciente é operado por uma doença benigna da próstata, que é o aumento prostático pela idade, essa causa, a alteração na bexiga é um pouco mais freqüente.
Quais são os exames necessários para avaliar os pacientes?
A principal avaliação do paciente é sempre feita por uma boa história clinica.
O paciente explica ao médico urologista o que está acontecendo com ele, como e quando ele tem incontinência urinária, em que situações ela acontece, se acontece o tempo todo ou não, se faz uso de fraldas e absorventes, etc.
Em seguida, é realizado um breve exame físico e eventualmente se o médico entender ser necessário poderá solicitar o diário miccional.
Diário miccional nada mais é que o registro de quantas vezes a pessoa foi ao banheiro, se houve perda urinária e em que situação ocorreu.
Esse registro deve acontecer durante três dias e a partir do diário miccional o médico terá uma noção exata de como é o hábito urinário desse paciente.
Se ainda necessário pode-se realizar um exame mais sofisticado chamado urodinâmico. Neste exame é introduzindo uma pequena sonda pelo canal da urina chegando até a bexiga permitindo avaliar o seu funcionamento e diagnosticar a causa da incontinência urinária.
O que é deficiência esfincteriana?
Deficiência esfincteriana é quando o músculo responsável por segurar a urina dentro da bexiga fica enfraquecido ou lesionado perdendo sua eficiência, ou seja, perde a sua capacidade de conter a micção. O grau de enfraquecimento do músculo esfincteriano será responsável pela perda continua ou ao esforço.
Ao observar a anatomia da próstata é possível perceber a proximidade que o músculo esfincteriano está com a região a ser operada, esta proximidade demonstra como pode ser fácil ocorrer alguma lesão nas fibras desse músculo durante o procedimento.
O tratamento é apenas a cirurgia?
Na verdade não. Quando um paciente é operado, principalmente por câncer de próstata, é sabido que existe um período em que toda a região operada irá cicatrizar, o processo inflamatório reduzirá. Então, esse músculo pode ter uma ação ineficiente temporária nas primeiras semanas.
É muito comum o paciente voltar ao consultório medico e relatar alguma perda de urina mais intensa ou menos intensa, eventualmente ter que fazer uso de absorventes ou fraldas.
Se a perda urinária for mais importante pode-se indicar tratamentos como fisioterapia com o objetivo de fortalecer a musculatura e desta forma o controle urinário seja mais rápido.
Quais os tipos de cirurgia para a deficiência esfincteriana?
Basicamente são dois tipos de cirurgia para a deficiência esfincteriana:
- Colocação de uma fita ou tela que irá comprimir o canal da uretra e com isso ajudar o músculo a funcionar melhor, ajudando no fortalecimento da musculatura. Porém, essa técnica só pode ser usada em pacientes que tem incontinência urinária leve a moderada, e que não fizeram radioterapia antes ou depois da cirurgia.
- Implantação de um esfíncter artificial, que nada mais é que um aparelho que irá substituir o funcionamento do esfíncter natural.
O esfíncter artificial tem um sistema que fica ao redor do canal, tem um balão que fica dentro do abdômen e tem outro sistema, onde o paciente irá acionar na hora que ele quiser urinar.
É um sistema hidráulico sofisticado, que ainda tem um custo alto, mas, felizmente desde 2014 está previsto no hall da ANS que obriga os planos de saúde a cobrir esse dispositivo.
Quais são as possíveis complicações da cirurgia?
Qualquer cirurgia pode ter complicações, efeitos colaterais ou efeitos adversos.
A colocação da tela, por exemplo, pode ter alguma complicação em relação à estrutura do canal, ou seja, prender demais o canal e ocorrer retenção de urina, etc.
O esfíncter artificial é um dispositivo feito de silicone podendo ser rejeitado pelo organismo. Felizmente isso acontece numa porcentagem pequena de pacientes, o que permite que os médicos recomendem o método com segurança.
Por Dr Carlos Sacomani